domingo, 20 de dezembro de 2009
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
2º dia dos Sussuradores no Bazar nos Nômades
Respira, tu que estás numa cela abafada
esse ar que entra por ela..."
Queria avançar para o começo
Chegar ao criançamento das palavras".
sábado, 5 de dezembro de 2009
1º dia de sussurradores de poesia no Bazar dos Nômades
Ciça, outra sócia do Coisário, sussurrando Manoel de Barros no Bazar.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
começo-meio-fim
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Morte à moda antiga
Morrer já era assunto nos meus sete anos. Aos sete, na pequena cidade, onde nasci, me dei conta de que a morte desfilava em frente a minha casa. Cercada por um quase invariável número de pessoas, dentro de um caixão adornado de prateado, orientava o caminho de um grande estandarte roxo e marcava o ritmo da banda de metais – sax, trombone e tuba - que acompanhava o cortejo a caminho do cemitério. Quando se noticiavam velório, agarrava na mão da Gardênia, flor mais velha entre as meninas que brotavam na minha rua, e ia ver o morto da vez: um velho, uma criança afogada ou uma mulher parida e seu recém-nascido. Sabia a morte uma rotina naquele lugar cercado de sertão e fome, especialmente de velhos e bebês, mas me chocava demais os afogados e os homens adultos. Levados por causas violentas que revelavam a fragilidade indistinta diante do rio, da estrada ou da bala, faziam a comoção na cidade mais intensa e, por isso, tinha sempre muitas mulheres em redor do velado derramando um choro inconformado e barulhento sobre panos rotos. Eu ia vê-los, aos sete, levada na corrente do interesse de toda a gente que não tinha muita ocupação e, pra isso, me organizava com minhas amigas da vizinhança, as mesmas de rodar bambolê, brincar de casinha e pular elástico e do mesmo jeito que fazia quando ia à praça ou ao circo ou tomar banho de rio ou a um aniversário ou aos festejos de dezembro. Saia de casa sem muito alarde, coisa fácil para a filha do meio de uma família grande; percorria uma longa calçada e ia formando bando à medida que mudava o nível dos batentes - cada casa tinha a calçada em uma altura, como uma escada suave e larga. Íamos às escondidas, mas nunca fomos proibidas explicitamente de ver os mortos. Nem castigo ganhávamos, só lamentos e uma advertência ambígua vinda de nossos pais, confusos por achar terrível que nos interessássemos, mas cientes de que a vida na cidade pequena se fazia com fatos dessa ordem: do nascer, do amar, do plantar, do partir e do morrer. Não tinham como nos negar as lições que vinham com esses eventos e nos proibir de perscrutar seus mistérios. Íamos como a um espetáculo, mas sabíamos da autenticidade da dor que envolvia cada caso e nos consternávamos, silenciando frente ao pranto, abaixando a cabeça na presença do morto, mas de jeito nenhum deixávamos de olhar cada detalhe da cena e tentar satisfazer cada gota da curiosidade que tínhamos sobre o que era a vida, a carne, o sofrimento, não sei bem. Quando, no centro do acontecimento, havia outra criança, vinha um adulto nos mandar de volta pra casa. Temia-se o peso da descoberta de que nem toda criança será sustentada pela vida. E essa descoberta assusta. Uma das situações mais desconcertantes em toda minha vida foi receber a pergunta, acompanhada de um olhar desamparado de minha filha, depois de saber, aos oito anos, que uma colega da escola havia sucumbido a uma crise de asma: “Mãe, então criança morre?”. Foi terrível testemunhar essa constatação.
Não lamento essa minha mórbida experiência na infância, embora a vida de hoje, a cultura urbana, a cultura do sucesso, a idéia fixa de felicidade, a vaidade, o sexo mítico, neguem o assunto da morte, do envelhecer, do brochar, do perder. Meu lamento maior é pelo nosso despreparo para estas coisas, pois elas estão a nossa frente o tempo inteiro, numa economia que nega sua realidade, mas sustenta a audiência da TV, só que de forma pasteurizada, mais espetacularizada, produzidas de forma que não pareçam o que são: perecimento, transitoriedade e perda, mas também aprendizado, sentimento, transformação, humanidade. O Arnaldo Antunes diz que, hoje, envelhecer é moderno. E eu digo que falar da morte é vintage.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
...
As cadeiras já não giram.
Ignoro-as.
Sem fixar-me, sigo.
Não olho para o círculo
miro o ponto distante
na altura do nariz.
Minha caminhada é a pé.
Cato pedrinhas
perco-as em seguida.
Vem a manhã
e já esqueço a noite.
Cuidadosa
tateio o fundo do saco.
Sinto minhas comichões bem vivas:
temos fôlego
elas e eu.
Deixa chover no destino!
Que nos reguem!
A gente sobrevive de esmos
derivas e sorte!
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
João Cabral de Mello Neto
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
Texto extraído do livro "João Cabral de Melo Neto - Obra completa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994, pág. 79.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Informe
Sei que posso confessar isso aqui.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Lista 3: Obviedades para me convencer a ir
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Estalos, petelecos e trincadas
sábado, 5 de setembro de 2009
reticências ou ontem foi...
Ontem estive no meio das mágoas, no meio das perguntas.
Ontem estive tão frágil.
Ontem estive tão séria.
Ontem dei uma volta lá fora - clamava pelo aconchego da minha vaidade.
Ontem me perdi outra vez das minhas certezas.
Hoje de manhã
desisti - enfim - de encontrar um ponto de exclamação.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Vacas & Livros
Los niños aprenden con los libros, pero también con las piedras, las moscas, las hormigas y las arañas. Aprenden con todo. Aprenden jugando. Y no se cansan de aprender. Por eso es absurdo que existan libros aburridos y que se pierda el tiempo con ellos en lugar de dedicarlo a observar a los escarabajos peloteros. Algunos de los más aburridos están hechos por gente con mentalidad de sastre que cree que los libros para niños deben ser como los trajes para niños: varias tallas más pequeños. La mirada inocente del niño nada tiene que ver con los pantaloncitos. Si no se entiende todo, ¿qué más da? Pocos adultos pueden explicar por qué vuelan los aviones y sin embargo no tienen miedo a viajar en ellos.
A excepción de los que se hacen para idiotizar, cada libro contiene el fragmento de un plano del tesoro (o al menos así se decía antes). Sólo cuando reunamos todos los pedazos seremos capaces de descifrar ese secreto que parece tan bien guardado. A veces uno se toma su tiempo. No es raro empezar a leer a los 7 años y ver que a los 77 seguimos con el mismo libro entre las manos.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Gavetas (da série intertextualidades)
L'Oratorio D'Aurelia & Dali
Espanha. 1939
O contador Antropomórfico, 1936
L'oratorio d'aurelia - Vitoria Thieree Chaplin