segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

2º dia dos Sussuradores no Bazar nos Nômades

No domingo...

...teve príncipe sussurrando "batatinha quando nasce"...
Amigas sussurrando segredos...

estréia do sussurrador "sol"...

gente dormindo...

gente que venceu o medo do sussurrador


novos sussurradores em construção
...

"Quem faz um poema abre uma janela
Respira, tu que estás numa cela abafada
esse ar que entra por ela..."

" Minha voz tem um vício de fontes.
Queria avançar para o começo
Chegar ao criançamento das palavras".


"O poeta escreve poesia
para ser criança todo dia."
"Quando ela fala
parece que a voz da brisa se cala..."

Fragmentos de Quintana, Fernando Paixão , Manoel de Barros e Machado de Assis

sábado, 5 de dezembro de 2009

1º dia de sussurradores de poesia no Bazar dos Nômades

Isadora e Clara são as primeiras
A garotada enfeitando seus sussurradores

Gal, sócia do Coisário, que fez parceria com a Tramadaletra.Começamos sussurrando na Praça
Ciça, outra sócia do Coisário, sussurrando Manoel de Barros no Bazar.
Mães entusiastas da poesia sussurrada
Ciça sussurrando na praça
Nana, atenta.
Eu, sussrrando para a mulher do fogo.



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Manifesto dos Sussurradores de Poesia
Os sons mais característicos do mundo atual são, de fato, barulho, ruído.
Esta inquietude em face do que ouvimos está cada vez mais forte e inspira a arte contemporânea através de propostas que incorporam, ao sentido da visão, a experiência auditiva. Não raro, essas experiências remetem aos sons da cidade, à velocidade, à dificuldade de comunicação, à superposição de vozes, ao grito... ao incômodo.
A arte nos diz: o som é uma dimensão que já não sabemos habitar. A ausência de som, nossa utopia.
Há quem diga que os novos sinais de riqueza se mostram através da posse do tempo, do espaço e do silêncio. Os sons nos empobrecem?
Ainda temos a música e a palavra (bem) falada.
A palavra ao ouvido - o sussurro - é a nossa escolha. Gostamos deste espaço intermediário entre o som e o silêncio, onde estes extremos se tocam.
Inspiramo-nos no grupo performático francês Les Souffleurs (literalmente, Os Sopradores), que realiza intervenções em várias cidades do mundo sussurrando fragmentos de textos poéticos e filosóficos no ouvido das pessoas, numa tentativa de desaceleração do mundo.
“Comandos Poéticos” é a performance mais famosa dos Les Souffleurs e foi apresentada na cidade de São Paulo, na Virada Cultural de 2009, quando sussurraram poesia em praças e bibliotecas.
Como o grupo Les Souffleus, usamos um tubo para sussurrar os textos. Optamos por reaproveitar tubos de papel que, na nossa proposta, se tornam um objeto lúdico, belo e que recupera o gosto das brincadeiras simples de antigamente.
Propomos-nos a usar a poesia como delicado presente, que se leva da boca ao ouvido. Começaremos pelas crianças, elas que estão sempre mais atentas e abertas. Queremos brincar de, por um instante, silenciar o mundo com um poema. E que elas sigam com a idéia.
Aos poucos, vamos incluindo outras gentes que se disponham a interromper a tagarelice do mundo com segundos de poesia.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

começo-meio-fim

Ilustração: Mônica Serna


Quem, se eu gritasse, dentre uma legião de anjos me ouviria?” O Rilke soube começar um poema assim. Ele soube, eu não. Por isso começo com o Rilke, pois não sou capaz de começar em paz. Meus começos são o meio de uma subida íngreme. E os recomeços piores.
Adoro a expressão em espanhol “a continuación...” É o nosso “a seguir”. Mais bonito. Dá mais ânimo de ir em frente. Se tivesse como dizer “a continuación”, talvez seguisse. Não sigo.
Findo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Morte à moda antiga


Comecei a escrever esse texto depois de ter visto o filme A Partida (Japão, 2008), muito terno e leve, mesmo ao abordar os fatos da morte. Emocionei-me assistindo àquela história sobre achar o singelo, a realização íntima onde há medo e mistério. Gostei especialmente porque me senti menos bizarra por ter testemunhado mortos e enterros desde cedo.
Morrer já era assunto nos meus sete anos. Aos sete, na pequena cidade, onde nasci, me dei conta de que a morte desfilava em frente a minha casa. Cercada por um quase invariável número de pessoas, dentro de um caixão adornado de prateado, orientava o caminho de um grande estandarte roxo e marcava o ritmo da banda de metais – sax, trombone e tuba - que acompanhava o cortejo a caminho do cemitério. Quando se noticiavam velório, agarrava na mão da Gardênia, flor mais velha entre as meninas que brotavam na minha rua, e ia ver o morto da vez: um velho, uma criança afogada ou uma mulher parida e seu recém-nascido. Sabia a morte uma rotina naquele lugar cercado de sertão e fome, especialmente de velhos e bebês, mas me chocava demais os afogados e os homens adultos. Levados por causas violentas que revelavam a fragilidade indistinta diante do rio, da estrada ou da bala, faziam a comoção na cidade mais intensa e, por isso, tinha sempre muitas mulheres em redor do velado derramando um choro inconformado e barulhento sobre panos rotos. Eu ia vê-los, aos sete, levada na corrente do interesse de toda a gente que não tinha muita ocupação e, pra isso, me organizava com minhas amigas da vizinhança, as mesmas de rodar bambolê, brincar de casinha e pular elástico e do mesmo jeito que fazia quando ia à praça ou ao circo ou tomar banho de rio ou a um aniversário ou aos festejos de dezembro. Saia de casa sem muito alarde, coisa fácil para a filha do meio de uma família grande; percorria uma longa calçada e ia formando bando à medida que mudava o nível dos batentes - cada casa tinha a calçada em uma altura, como uma escada suave e larga. Íamos às escondidas, mas nunca fomos proibidas explicitamente de ver os mortos. Nem castigo ganhávamos, só lamentos e uma advertência ambígua vinda de nossos pais, confusos por achar terrível que nos interessássemos, mas cientes de que a vida na cidade pequena se fazia com fatos dessa ordem: do nascer, do amar, do plantar, do partir e do morrer. Não tinham como nos negar as lições que vinham com esses eventos e nos proibir de perscrutar seus mistérios. Íamos como a um espetáculo, mas sabíamos da autenticidade da dor que envolvia cada caso e nos consternávamos, silenciando frente ao pranto, abaixando a cabeça na presença do morto, mas de jeito nenhum deixávamos de olhar cada detalhe da cena e tentar satisfazer cada gota da curiosidade que tínhamos sobre o que era a vida, a carne, o sofrimento, não sei bem. Quando, no centro do acontecimento, havia outra criança, vinha um adulto nos mandar de volta pra casa. Temia-se o peso da descoberta de que nem toda criança será sustentada pela vida. E essa descoberta assusta. Uma das situações mais desconcertantes em toda minha vida foi receber a pergunta, acompanhada de um olhar desamparado de minha filha, depois de saber, aos oito anos, que uma colega da escola havia sucumbido a uma crise de asma: “Mãe, então criança morre?”. Foi terrível testemunhar essa constatação.

Não lamento essa minha mórbida experiência na infância, embora a vida de hoje, a cultura urbana, a cultura do sucesso, a idéia fixa de felicidade, a vaidade, o sexo mítico, neguem o assunto da morte, do envelhecer, do brochar, do perder. Meu lamento maior é pelo nosso despreparo para estas coisas, pois elas estão a nossa frente o tempo inteiro, numa economia que nega sua realidade, mas sustenta a audiência da TV, só que de forma pasteurizada, mais espetacularizada, produzidas de forma que não pareçam o que são: perecimento, transitoriedade e perda, mas também aprendizado, sentimento, transformação, humanidade. O Arnaldo Antunes diz que, hoje, envelhecer é moderno. E eu digo que falar da morte é vintage.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

...

As cadeiras já não giram.

Ignoro-as.

Sem fixar-me, sigo.

Não olho para o círculo

miro o ponto distante

na altura do nariz.


Minha caminhada é a pé.

Cato pedrinhas

perco-as em seguida.

Vem a manhã

e já esqueço a noite.


Cuidadosa

tateio o fundo do saco.

Sinto minhas comichões bem vivas:

temos fôlego

elas e eu.


Deixa chover no destino!

Que nos reguem!

A gente sobrevive de esmos

derivas e sorte!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Paternidades

Meu pai, meu irmão, Jarbas, e eu, morrendo de inveja...


Da esquerda para a direita: Jarbas, Juca, meu pai, eu e Geisa. Esta foto me curou, um dia.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

João Cabral de Mello Neto



Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.

Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.


Texto extraído do livro "João Cabral de Melo Neto - Obra completa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994, pág. 79.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Informe

Informo que estou ainda em choque por ter passado em primeiro lugar no concurso para professor efetivo da universidade federal de alagoas, com o compromisso de viver entre maceió e salvador a partir de novembro e com sentimentos muito ambíguos em relação a isso.
Sei que posso confessar isso aqui.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Lista 3: Obviedades para me convencer a ir




1. Não sou uma pedra ( Que, segundo minha mãe, é uma criatura que não morre, mas que também não se move);


2. No mundo há portas, escadas, caminhos... feitos por alguém que já passou


3. Quando chamo de risco o lugar pra onde vou, me chamo de corajosa;


4. Ir é o contrário de retornar;


5. Quando o caminho é longo, há mais tempo para mudar de idéia;


7. Ruim é ficar, ficar, ficar, ficar...


9. Sempre há a possibilidade da volta ou de outras idas;


10. Não precisamos sempre esperar pelo vento;










quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Estalos, petelecos e trincadas

Alma Corsária

De tanto sono me baixa uma lucidez estranha
em que a amendoeira pousa, luminosa, rara,
sob o fundo escuro da noite meio baça
(cilíndrica, roliça, bizarra)
seu vulto verde acocorado sobre a água
da piscina que não tem um pensamento.
Eu sinto inveja dessas águas anuladas
tão plácidas, idênticas ao próprio contorno
enquanto eu mesma nem sei onde começo,
quando acabo
e sofro o assédio de tudo o que me toca.
O mundo ora me engole, ora me vara
e tudo o que aproxima me desterra.
Chorei, ao ver no chão da cela,
o botão arrancado na contenda,
os óculos pisados do escritor judeu.
Tenho um coração que estala
com o peteleco das palavras de Clarice.
Numa vila miserável na Bahia,
um negro lindo, lindo,
dança ao som do corisco
_ e só me apaixono por casos perdidos,
homens com um quê de irremediável.
Mais de uma vez, imóvel, circunspecta,
vi abrir-se a máquina do mundo
sob a luz inclinada de Ipanema,
na Serra da Bocaina, no meio da floresta,
no alto da escada no topo do morro
por onde a moça seqüestrada vinha subindo
debaixo das lágrimas do pai.
Mais de uma vez meu coração trincou feito vidro
diante da página impressa,
e sempre que a palavra justa vem tirar seu mel
de dentro da copa do desespero de amor.
Acredito, do fundo das minhas células,
que uma amizade sincera "é o único modo de sair da solidão
que um espírito tem no corpo".
Sim, eu acredito no corpo.
Por tudo isso é que eu me perco
em coisas que, nos outros,
são migalhas.
Por isso navego, sóbria, de olho seco,
as madrugadas.
Por isso ando pisando em brasas
até sobre as folhas de relva,
na trilha mais incerta e mais sozinha.
Mas se me perguntarem o que é um poeta
(Eu daria tudo o que era meu por nada),
eu digo.
O poeta é uma deformidade.
Claudia Roquette-Pinto

sábado, 5 de setembro de 2009

reticências ou ontem foi...

Foto: Gianni Muratori

Ontem estive na berlinda. Coisa difícil de se passar.
Ontem estive no meio das mágoas, no meio das perguntas.
Ontem estive tão frágil.
Ontem estive tão séria.
Ontem dei uma volta lá
fora - clamava pelo aconchego da minha vaidade.
Ontem me perdi outra vez das minhas certezas.
Hoje de manhã
depois de abrir e fechar gavetas
depois achar alguns botões
dentes de leite, tocos de velas e velhos cartões de natal
desisti - enfim - de encontrar um ponto de exclamação.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Browne & Magritte - Intertextualidades II

Anthony Browne - Willy o sonhador
René Maagritte - O castelo dos pirineus


Tem dias, olho pra essa pintura de Magritte e me reconheço nela. Às vezes fico contente... às vezes não.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Vacas & Livros


La vaca es un rumiante: se traga el alimento para más tarde devolverlo a la boca y masticarlo con tranquilidad. Exactamente de esa forma se deberían leer los libros: volviendo a ellos en diferentes ocasiones y masticándolos a fondo para asegurarnos una digestión placentera.
Los niños aprenden con los libros, pero también con las piedras, las moscas, las hormigas y las arañas. Aprenden con todo. Aprenden jugando. Y no se cansan de aprender. Por eso es absurdo que existan libros aburridos y que se pierda el tiempo con ellos en lugar de dedicarlo a observar a los escarabajos peloteros. Algunos de los más aburridos están hechos por gente con mentalidad de sastre que cree que los libros para niños deben ser como los trajes para niños: varias tallas más pequeños. La mirada inocente del niño nada tiene que ver con los pantaloncitos. Si no se entiende todo, ¿qué más da? Pocos adultos pueden explicar por qué vuelan los aviones y sin embargo no tienen miedo a viajar en ellos.
A excepción de los que se hacen para idiotizar, cada libro contiene el fragmento de un plano del tesoro (o al menos así se decía antes). Sólo cuando reunamos todos los pedazos seremos capaces de descifrar ese secreto que parece tan bien guardado. A veces uno se toma su tiempo. No es raro empezar a leer a los 7 años y ver que a los 77 seguimos con el mismo libro entre las manos.
(Trecho da apresentação da editora espanhola Media Vaca http:www.mediavaca.com)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gavetas (da série intertextualidades)


L'Oratorio D'Aurelia & Dali

Espanha. 1939




O contador Antropomórfico, 1936






L'oratorio d'aurelia - Vitoria Thieree Chaplin

quinta-feira, 20 de agosto de 2009




Fui ao circo


Comecei um trabalho


Vi minha filha de outro jeito


amei de novo meus pais


voltei ao dia


da minha morte


e me vi abrir os olhos


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Lobo Antunes


Pregnancy - Klimt



"Freud falava da inveja do pênis, mas a da gravidez é muito maior. No fim, escrever é a única maneira de ficar grávido.”
Lobo Antunes



segunda-feira, 25 de maio de 2009

Maranhão: já vi esse filme.

Babaçuais ondulantes - LUIZ FERNANDO VIANNA

RIO DE JANEIRO - "O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero das ruínas que não levam a lugar nenhum, senão ao estágio em que o homem de carne e osso é o bicho de carne e osso."
Estas palavras soam atuais diante das imagens e dos números terríveis das enchentes no Maranhão. Mas elas foram ditas por José Sarney há 43 anos. Destacam-se no discurso que ele fez para a multidão no dia de sua posse como governador do Estado. Estão registradas no curta-metragem "Maranhão 66", de Glauber Rocha. O filme tem cenas ambíguas -ao menos aos olhos de hoje. Enquanto Sarney discursa, aparecem homens tuberculosos, crianças bebendo água podre, famílias miseráveis e casas feitas de barro, semelhantes às que a TV continua mostrando.Amigo de Sarney, Glauber poderia até querer mostrar o Maranhão que ficaria para trás com a posse do jovem (36 anos) político. Mas as imagens sobreviveram como documento do que não muda no Maranhão, no Nordeste, no Brasil. As chuvas podem ser culpa do aquecimento global, do acaso, do mau humor de são Pedro. Mas seus efeitos são de responsabilidade humana, demasiado humana.Quatro décadas depois, um (uma, no caso) Sarney está novamente governando o Estado. Nova chance para o discurso de 1966 começar a ficar, enfim, obsoleto."O Maranhão não quer mais a coletoria como uma caixa privada a angariar dízimos inexistentes para inexistentes arcas reais, que não são inexistentes, porque se podem pronunciar os nomes dos beneficiários e identificá-los ao longo desses anos de corrupção."

domingo, 17 de maio de 2009

Não sou leve.

Minhas dúvidas

meu pente de osso

meus propósitos

um sopro intermitente atrás da orelha

a metade de uma dor que ainda me assalta o sono

o amor

e o medo que levo por precaução

são necessários para que eu me sustente sob mim.

Imagem: Mariana Massarani