quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Adoro o filme Flashdance, um dos meus preferidos. Pra mim, certos filmes funcionam como máquinas do tempo. Esse, não tem jeito, me faz sentir de novo aos treze. A trilha é ótima, me lembra as festas na casa do meu primo, na década de 80. Cenas inesquecíveis como aquela da câmera passando pelos pés das bailarinas, partindo da botina da Alex. Reconheci,de imediato,logo que vi, aquela sensação de se sentir um peixe fora d'água em certo ambientes.
Outra trilha que amo é do Beleza Roubada. Steve Wonder na melhor fase e Portishead.
As reminiscências são inevitáveis também quanto vejo Doutor Jivago, que vi pela TV no dia que dei meu primeiro beijo, e com Asas do Desejo do Win Wenders, que vi no Cine Sesc na primeira vez que fui a São Paulo quando ainda namorava meu marido. Neste cinema se podia fumar e beber em um reservado enquanto se via o filme. Além da beleza do filme em si, me emociono porque nunca deixo de lembrar daquele momento inusitado de estar no bar e no cinema ao mesmo tempo.
Amo cinema. Das coisas mais americanizadas como Flashdance, Gremlin e os musicais dos anos 50, até Abbas Kiarostami, Lars Von Trier e o dogma 95 ou Chan-wook Park e seu Old Boy.
Dos que vi ultimamente, destaque para O Leitor. Dava uma discussão ótima sobre a leitura. Apesar de parecer uma história sobre a culpa dos alemãs por causa do nazismo (confesso que já enchi de tantos filmes sobre o holocausto), me parece mais uma história sobre a leitura como fetiche. E desconstrói a idéia de que ler é sempre um saber elevado, transformador. A leitura, no filme, se equipara ao sexo: essencialmente prazer, e também um valor moderno, sobre o qual se criam mitos e que produz exclusão.
Vale a pena.

Eis o Alan Pauls. Ele disse que se os homens não existissem, nós, mulheres, os inventaríamos como fazemos todos os dias.
Ãhã....

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Perguntas e seduções

Imagem: Sea Serpents -Gustave Klint






Não resisti. Primeiro ao "Livro da Perguntas", da Cosac Naify, capa dura, sobrecapa e perguntas-poemas/poemas-perguntas póstumos do Neruda com tradução do Ferreira Gullar e ilustrações maravilhosas feitas com recortes de papel de um artista chamado Isidro Ferrer.

Depois, ao charme (e que charme) do escritor argentino Alan Pauls que vi na tv fazendo uma pergunta (elas de novo) para as apresentadoras (que pagaram o maior pau) do Saia Justa da GNT. Ele queria saber o que elas fariam se os homens não existissem.


Pergunta que vale só pras mulheres, não é? Não estou certa.


Eu pensei, na hora, na Moça Tecelã da Marina Colasanti que, na falta, teceu o dela e se arrependeu. Eu queria tecer uns trinta, pro caso de me arrepender, mas aí que garantias teria?... na verdade não tive uma resposta. Já ele, alcançou o propósito de nos fazer confessar nossa incompletude.

Então... deixo a pergunta no ar e não vou contar, pra quem não viu, a resposta (astuta) que o próprio autor deu. Não agora. Pro caso de alguém querer refletir sobre o causo.


E eu não resisti, como disse. Fui procurar os livros do Pauls. Não comprei "O passado", que aliás virou filme, porque estava muito caro (59 reais) e pensei que depois eu poderia conseguir - se gostasse da escrita - com desconto com a moça da editora que eu conheço e que é muito legal. Assim, minha fraqueza cedeu apenas ao "História do Pranto" de 29 reis na Livraria Saraiva, lançamento também da Cosac.
Eu gosto. É um livro com certa afetação, mas que a gente consegue deslizar, apesar dos parágrafos longos e das inúmeras frases intercaladas que são coisas de estilo. O universo que ele apresenta é tão familiar, íntimo - e meio pop, que quando a gente embarca, nem percebe o burilamente do texto, ou melhor: percebe só porque se depara com coisas belíssimas e aí você pula, fácil, da história pro texto e vice-versa.

Pra experimentar:







do Livro das Perguntas de
Pablo Neruda (Cosac & Naify, 2008, 182 p.)
...
Como se chama a flor
que voa de pássaro em pássaro?
...

Que acontece às adorinhas
que chegam tarde ao colégio?

É verdade que espalham
cartas transparente no céu?

...
As lágrimas que não choramos
esperam em pequenos lagos?

Ou serão rios invisíveis
que correm para a tristeza?

...
Como agradecer às nuvens
essa abundânca fugidia?


Da "História do Pranto" de Alan Pauls ( Cosac e Naify, 2008, 88 p.)

"[...] quando algo lhe chega do mundo com um sorriso nos lábios, quando um sinal de alguma forma de felicidade, não importa se tênue ou flagrante, parece apelar para sua cumplicidade ou pedir consideração. A única coisa que se lhe dá fazer nesses casos, e ele o faz sem pensar, mecanicamente, respondendo a algum tipo de programação secreta, é se comportar como um consumidor treinado, sempre alerta a detectar a astúcia com que pretendem enganá-lo: investir contra, rasgar o véu sorridente com que a felicidade se lhe apresenta, atravessá-lo e deparar com o obscuro coágulo de dor que oculta e do qual, segundo ele, e talvez essa seja uma das coisas que mais o sublevam, essa espécie de parasitismo jamais confessado não faz senão se alimentar. Isso quando não lhe dá na veneta fazer alguma coisa. Porque na maioria das vezes nem chega a isso. É tal a inquietude, e tão esmagador o abatimento que o invade, que solta os braços, deixa-se cair, desvia o rosto e olha para o lado."

E eu ainda sonho em escrever um dia... tsk, tsk, tsk.


Me ocorre, agora: que tipo de pergunta seduz? Algumas seduções, isso eu sei, vêm em forma de pergunta: das mais vulgares cantadas às indagações que nos faz o tempo e que nos trancam momentaneamente pelo lado de fora.

Lembra de alguma pergunta sedutora?