segunda-feira, 25 de maio de 2009

Maranhão: já vi esse filme.

Babaçuais ondulantes - LUIZ FERNANDO VIANNA

RIO DE JANEIRO - "O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero das ruínas que não levam a lugar nenhum, senão ao estágio em que o homem de carne e osso é o bicho de carne e osso."
Estas palavras soam atuais diante das imagens e dos números terríveis das enchentes no Maranhão. Mas elas foram ditas por José Sarney há 43 anos. Destacam-se no discurso que ele fez para a multidão no dia de sua posse como governador do Estado. Estão registradas no curta-metragem "Maranhão 66", de Glauber Rocha. O filme tem cenas ambíguas -ao menos aos olhos de hoje. Enquanto Sarney discursa, aparecem homens tuberculosos, crianças bebendo água podre, famílias miseráveis e casas feitas de barro, semelhantes às que a TV continua mostrando.Amigo de Sarney, Glauber poderia até querer mostrar o Maranhão que ficaria para trás com a posse do jovem (36 anos) político. Mas as imagens sobreviveram como documento do que não muda no Maranhão, no Nordeste, no Brasil. As chuvas podem ser culpa do aquecimento global, do acaso, do mau humor de são Pedro. Mas seus efeitos são de responsabilidade humana, demasiado humana.Quatro décadas depois, um (uma, no caso) Sarney está novamente governando o Estado. Nova chance para o discurso de 1966 começar a ficar, enfim, obsoleto."O Maranhão não quer mais a coletoria como uma caixa privada a angariar dízimos inexistentes para inexistentes arcas reais, que não são inexistentes, porque se podem pronunciar os nomes dos beneficiários e identificá-los ao longo desses anos de corrupção."

domingo, 17 de maio de 2009

Não sou leve.

Minhas dúvidas

meu pente de osso

meus propósitos

um sopro intermitente atrás da orelha

a metade de uma dor que ainda me assalta o sono

o amor

e o medo que levo por precaução

são necessários para que eu me sustente sob mim.

Imagem: Mariana Massarani