segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Uma arte - Elisabeth Bishop

Tradução: Ricardo Cabús
(In: CABUS, Ricardo, Cacos Inconexos. Maceió: Instituto Lumeeiro, 2010)


A arte de perder não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem cheias do intento
de ser perdida que sua perda não é um desastre.


Perca alguma coisa todo dia. Aceite a perturbação
de perder as chaves da porta, a hora gasta inadequadamente.
A arte de perder não é difícil de dominar.


Então pratique perder mais, perder mais rápido:
lugares e nomes e para onde você queria
viajar. Nada disso será um desastre.


Perdi o relógio de minha mãe. E veja! Minha última, ou
quase-última, de três casas queridas se foram.
A arte de perder não é difícil de dominar.


Perdi duas amáveis cidades. E, mais vasto,
alguns reinos que possuía, dois rios, um continente.
Eu sinto falta deles, mas não foi um desastre.


– Mesmo perdendo você (a voz brincalhona, um gesto
que amo) eu não deveria ter mentido. É claro que
a arte de perder não é tão difícil de dominar
embora possa parecer como (escreva isto!) como um desastre.

sábado, 20 de novembro de 2010

sambadinha


Vez, meu coração deu um pequeno passo pra trás, como numa sambadinha, uma só. Fez que voltou, deu um pulinho, ameaçou parar, mas tava era brincando. Que ter pé na frente do outro, tempo todo, é pra quem não tem ginga nessa vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Eu versus trinta e dois

Trinta e dois moradores de rua assassinados este ano em Maceió. Nada foi feito. E nada que tenho feito, pensado ou vivido merece mais minha atenção do que isto. Os que ainda permanecem nas ruas dormem durante o dia ou em cima de árvores com medo das balas cuspidas por carros noturnos. A crise nos blogs é nada. As aflições estudantis são apenas pedra rolando, vidas compradas ou herdadas. Não há sentido nas reuniões, nas tapiocas, nas bancas, no mar turquesa, no aeroporto, muito menos nesse banzo e no disjuntor queimado.Tento não deixar que as mensagens no celular me façam esquecer que trinta pessoas indefesas foram mortas na cidade em que quase vivo.
O azul desse blog me parece patético, agora.