quinta-feira, 18 de agosto de 2011

eu que pensei ser salva pela poesia, já engulo água.
qual tempo, esse, de esperança em versos?
qual modo, o das delicadezas ditas serem
banco de areia, barra, coral?
eu que em sonho nadei
no mar das palavras
nem derivo mais

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pequena teoria do beijo

O beijo é, na economia do mundo, do corpo ou da imaginação, coisa poderosa. Marco sensorial da contabilidade dos dias leves e dos estratagemas bélicos, é um roçar de lingua na vida, pungente ou morno. O beijo é um devorar macio do outro, de quem nos alimentamos para suportar os dias de solidão e mastigação saudável. O beijo é a recusa da racionalidade prática aplicada à rotina da boca - uma completa indiferença ante a composição bioquímica e biográfica da saliva. O beijo é um ato rebelde - das causas mínimas e máximas: se opõe ao conservadorismo dos corpos estáveis. Beija, quem quer pular de si para o abismo do outro. Beija, quem quer salvar-se da monotonia da alma intáctil. Beijam-se,  línguas curiosas, lábios receptivos e corpos silenciosos. Muitas vezes, beijam-se, apenas, os corpos. O beijo resiste expondo o amor a pequenos testes sem comprová-lo. Apesar de sua breve duração, ilude os amantes com lampejos de imortalidade.