David Cardoso, astro da pornochanchada
Nasci numa cidade muito pequena. Uma época, tinha dois cinemas. Foi quando eu descobri que o mundo era grande. O Cine Rival e o Cine Colinas. O mundo era muito grande. Vi o deserto e um menino picado por um escorpião. Teixeirinha, Dio come ti amo, Os trapalhões, bang bang italiano, pornochanchada. Vi uma cena de sexo pela primeira vez com o braço engessado. Saí escondida de casa e antes de a sessão terminar minha mãe já sabia que estava no cinema. Mandou me chamar. Minha irmã foi me fazendo medo. Eu pensando no que o Antonio Fagundes e o Ney Latorraca faziam com a Marilia Pera. No cinema só tinham bancos, não tinha cadeira. Às vezes, o filme queimava. Às vezes, a luz apagava. Às vezes eu ia com a empregada lá de casa. Às vezes, trocava o cinema pelo circo. Gostava do circo, mas o cinema era mais todo dia. Acabava a aula e eu via o cartaz no começo da praça. Ainda bem que eu morava no final da praça. Fotos de Saloons, de moças com tarjas pretas, de Renato Aragão e Muçum. Um dia, O Menino no Deserto. Um dia, Dio come ti amo (italiano!). Um dia, chorei no cinema. Eu nasci no cinema. Não de verdade. De verdade, mas no cinema!
Um comentário:
Gica, não me lembro a primeira ida ao cinema e quando passei a me sentir mais viva dentro de uma história...mas acho que me sinto assim, a cada filme visto...um vício maravilhoso, certamente! Bj
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