Gal, sócia do Coisário, que fez parceria com a Tramadaletra.Começamos sussurrando na Praça Ciça, outra sócia do Coisário, sussurrando Manoel de Barros no Bazar.
Mães entusiastas da poesia sussurrada
Ciça sussurrando na praça
Nana, atenta.
Eu, sussrrando para a mulher do fogo.
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Manifesto dos Sussurradores de Poesia
Os sons mais característicos do mundo atual são, de fato, barulho, ruído.
Esta inquietude em face do que ouvimos está cada vez mais forte e inspira a arte contemporânea através de propostas que incorporam, ao sentido da visão, a experiência auditiva. Não raro, essas experiências remetem aos sons da cidade, à velocidade, à dificuldade de comunicação, à superposição de vozes, ao grito... ao incômodo.
A arte nos diz: o som é uma dimensão que já não sabemos habitar. A ausência de som, nossa utopia.
Há quem diga que os novos sinais de riqueza se mostram através da posse do tempo, do espaço e do silêncio. Os sons nos empobrecem?
Ainda temos a música e a palavra (bem) falada.
A palavra ao ouvido - o sussurro - é a nossa escolha. Gostamos deste espaço intermediário entre o som e o silêncio, onde estes extremos se tocam.
Inspiramo-nos no grupo performático francês Les Souffleurs (literalmente, Os Sopradores), que realiza intervenções em várias cidades do mundo sussurrando fragmentos de textos poéticos e filosóficos no ouvido das pessoas, numa tentativa de desaceleração do mundo.
“Comandos Poéticos” é a performance mais famosa dos Les Souffleurs e foi apresentada na cidade de São Paulo, na Virada Cultural de 2009, quando sussurraram poesia em praças e bibliotecas.
Como o grupo Les Souffleus, usamos um tubo para sussurrar os textos. Optamos por reaproveitar tubos de papel que, na nossa proposta, se tornam um objeto lúdico, belo e que recupera o gosto das brincadeiras simples de antigamente.
Propomos-nos a usar a poesia como delicado presente, que se leva da boca ao ouvido. Começaremos pelas crianças, elas que estão sempre mais atentas e abertas. Queremos brincar de, por um instante, silenciar o mundo com um poema. E que elas sigam com a idéia.
Aos poucos, vamos incluindo outras gentes que se disponham a interromper a tagarelice do mundo com segundos de poesia.
“Quem, se eu gritasse, dentre uma legião de anjos me ouviria?” O Rilke soube começar um poema assim.Ele soube, eu não. Por isso começo com o Rilke, pois não sou capaz de começar em paz. Meus começos são o meio de uma subida íngreme.E os recomeços piores.
Adoro a expressão em espanhol “a continuación...” É o nosso “a seguir”. Mais bonito. Dá mais ânimo de ir em frente. Se tivesse como dizer “a continuación”, talvez seguisse. Não sigo.