sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Cada escrita a seu tempo.

Quanto releio os textos deste blog, fortalecem minhas suspeitas de que sempre tive um certo deficit de atenção. Se não for isso, me entristece constatar meu pouco cuidado com as palavras que lanço no mundo. Meu Deus, quantos erros!  O vinho justifica só em parte, pois nem sempre segui a proposta original de escrever acompanhada de uma taça. Quando me deparo com uma frase mal escrita, um palavra errada, corrijo, às vezes, outras, deixo pra lá, avaliando que alguns textos nem merecem muita atenção mesmo. De qualquer modo, fico pensando: que tanta pressa é essa de dizer se, geralmente, só algum tempo depois, consigo identificar os problemas do texto? Percebo que esses erros não passam ao largo do meu conhecimento da língua, é um questão de refletir um pouco mais ou abrir uma nova aba no computador, coisa que raramente faço. Talvez seja uma coisa normal ao universo do blog, dos textos escritos para a internet, esse inacabamento. Como não segue o mesmo o percurso da criação à publicação da escrita impressa, mais lento e que requer vários olhares e etapas, o texto digital já nasce público, sem paciência de esperar na pasta de rascunho, sob risco de ser esquecido ou de se tornar obsoleto. É como se a escrita não tivesse mais a mesma resistência de outrora, pois perdeu, junto com a materialidade, um pouco do seu poder. Por outro lado, pode ser apenas mais um indício de que escrever literatura não seja um projeto para mim, como pretensiosamente pensei um dia. Sinto que me falta aquilo que deve sobrar no escritor de literatura, o jogo erótico com as palavras. Fazê-las dançar de acordo com suas intenções, com suas determinações, com seu desejo, respeitando os mistérios que guardam. Atormenta-me saber que tem gente que faz isso tão bem e não vê como uma grande coisa. Ou que outros não vejam a grande coisa que um sujeito faz quando escreve literatura. Eu apenas reajo ao mundo com as palavras que me estão mais a mão, que bóiam na superfície da memória. Não pesquiso, não consulto dicionários, nem me demoro à espera da palavra certa. E quando arrisco um vocabulário novo, me arrisco simplesmente. Tudo errado. Um bom escritor jamais trataria assim o seu texto. Um dia - e isso tem a ver com o tempo da Tramadaletra - desejei escrever com a paciência de quem faz renda, entrelaçando ponto a ponto as linhas coloridas de sentido e forma. Se me lembrasse de alguma boa metáfora agora, a usaria para me referir a alguém que sabe o tempo da coisas com as quais lida, que sabe esperar, refazer, planejar. Hoje, reconheço que não sei lidar com o tempo das palavras e talvez isso seja uma consequência de não saber lidar com o tempo e ponto. Tenho uma sensação de que estou sempre além ou aquém do agora, na tentativa de recuperar algo que me escapou antes. Isso atrapalha a boa escrita, pois escrever implica a compreensão de que se é quase nada diante do tempo e que ela seria um truque inventado para aprisioná-lo. Eu já me acostumei demais a ter pressa, não dá mais pra tentar me acertar com a espera das horas. Provavelmente, o único modo de não estar em descompasso com o tempo da escrita seria me deixar levar com resignação. Duvido que consiga. Assim, eu, que não sei deixar a palavras amadurecerem mas que tenho a esperança de saber amadurecer com elas, vou, contraditoriamente, silenciando este blog para me dedicar a outros textos. Pode ser que, vez ou outra, publique uma imagem. Quem sabe. Por enquanto, agradeço aos que estiveram por aqui. 
Até.
Giselly