segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Desacelerando o mundo com um poema





Fotos: Beatriz Galrão





Lícia Beltrão e Martha Galrão espalhando a idéia dos sussurradores de poesia no Pró-infantil. Beleza! O desejo é que os professores repitam a experiência nas suas escolas. Tomara!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mea culpa

Reconheço: o post anterior (O mundo é bão) é bem babaca. Ficou uma coisa de achar que só do lado de lá que o mundo é bom. Na hora, só pensava em achar alguma lembrança livre das agruras últimas. Se é que não complica, acho que foi por força do vinho, meio associação livre. Depois me dei conta de que o blog ta meio com cara de facebook. Sorry. As vezes, minhas fantasias são deste nível.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Uma arte - Elisabeth Bishop

Tradução: Ricardo Cabús
(In: CABUS, Ricardo, Cacos Inconexos. Maceió: Instituto Lumeeiro, 2010)


A arte de perder não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem cheias do intento
de ser perdida que sua perda não é um desastre.


Perca alguma coisa todo dia. Aceite a perturbação
de perder as chaves da porta, a hora gasta inadequadamente.
A arte de perder não é difícil de dominar.


Então pratique perder mais, perder mais rápido:
lugares e nomes e para onde você queria
viajar. Nada disso será um desastre.


Perdi o relógio de minha mãe. E veja! Minha última, ou
quase-última, de três casas queridas se foram.
A arte de perder não é difícil de dominar.


Perdi duas amáveis cidades. E, mais vasto,
alguns reinos que possuía, dois rios, um continente.
Eu sinto falta deles, mas não foi um desastre.


– Mesmo perdendo você (a voz brincalhona, um gesto
que amo) eu não deveria ter mentido. É claro que
a arte de perder não é tão difícil de dominar
embora possa parecer como (escreva isto!) como um desastre.

sábado, 20 de novembro de 2010

sambadinha


Vez, meu coração deu um pequeno passo pra trás, como numa sambadinha, uma só. Fez que voltou, deu um pulinho, ameaçou parar, mas tava era brincando. Que ter pé na frente do outro, tempo todo, é pra quem não tem ginga nessa vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Eu versus trinta e dois

Trinta e dois moradores de rua assassinados este ano em Maceió. Nada foi feito. E nada que tenho feito, pensado ou vivido merece mais minha atenção do que isto. Os que ainda permanecem nas ruas dormem durante o dia ou em cima de árvores com medo das balas cuspidas por carros noturnos. A crise nos blogs é nada. As aflições estudantis são apenas pedra rolando, vidas compradas ou herdadas. Não há sentido nas reuniões, nas tapiocas, nas bancas, no mar turquesa, no aeroporto, muito menos nesse banzo e no disjuntor queimado.Tento não deixar que as mensagens no celular me façam esquecer que trinta pessoas indefesas foram mortas na cidade em que quase vivo.
O azul desse blog me parece patético, agora.



sexta-feira, 22 de outubro de 2010

exercício 3

Sou incapaz de interpretar cigarras no 15ª andar
Lanço poucos sóis sobre a cabeça antes do meio-dia
Bordei um exílio sem lembrar como grita uma distância

Como a faxineira que lambe as cartas do filho antes de desvirar as barras
Como o passarinho que impõe seu mantra impaciente, esquecido que a noite nasce
Como a professora que roubou o cabelo da aluna para desembrulhar castelos
E o pai que cobrou do filho o último centavo para saborear futuros

Sou um tanto de impossibilidades.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O sistema/2 - Eduardo Galeano


"Tempo dos camaleões: ninguém ensinou tanto à humanidade quanto esses humildes animaizinhos. Considera-se culto quem oculta, rende-se culto à cultura do disfarce. Fala-se a dupla linguagem do artista da simulação. Dupla linguagem, dupla contabilidade, dupla moral: uma moral para dizer, uma moral para fazer. A moral para fazer se chama realismo.

A lei da realidade é a lei do poder. Para que a realidade não seja irreal, dizem os que mandam, a moral deve ser imoral."
O livro dos abraços

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mundo enquadrado

Era o dia da eleição e saí com minha câmera com a idéia de registrar algo relacionado com o processo eleitoral, democracia e tal. Me dispersei. Estava era saudosa dessa cidade.


Algumas imagens que pesquei:
Escada Azul - Garibaldi

Aflitos





varal - Garibaldi



Adoro esta. Tanta coisa acontece entra esta avó e este garoto....

sussurros por aí


Irreverentes em Maceió




Comportados na Estação das Letras no Marista-Salvador


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sonâmbulo



Composição: Céu/Bruno Buarque/Sérgio Machado

Numa espécie de limbo
O sonâmbulo anda feito pêndulo
Ora pende dormindo, ora pende contra o tempo
E faz deste inimigo, atrasado, correndo
Justifica um vazio interno, imenso
Fugas mentais ocupam os pensamentos
E se torna incapaz de ocupar a si mesmo
TVs, zines, jornais, químicas num intento
Bloquear os canais
Domesticar seus anseios

Que é bom desconfiar dos "bons" elementos

Feito histórias de Moebius vão tirar sua visão
E te dar olhos passivos adequados ao padrão

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

sobre homens e mastros



fotos: Giselly Lima


Taí um assunto sobre o qual quero me manifestar faz algum tempo. Um negócio que me incomoda desde a primeira vez que observei acontecendo. Foi quando começou o boom do mercado imobiliário em Salvador com aquela propaganda pesada, panfletagem em todo canto, páginas inteiras nos jornais, outdoors e ...mastros humanos. É assim que eu chamo esse fenômeno que o aquecimento da construção civil inventou e que a propaganda política acolheu prontamente. Mastros humanos são aqueles homens e mulheres que ficam parados em lugares de grande circulação segurando uma bandeira com a propaganda de um candidato ou de um novo condomínio.
Fico extremamente incomodada com o fato de se utilizar um ser humano para a função de apenas segurar uma bandeira durante horas, parado em um mesmo lugar, pois desta forma se estaria driblando uma lei que proíbe propaganda fixa em certos lugares públicos. Penso que não é um trabalho que dignifica, embora se diga que todo trabalho o faça. Se não há nada que o sujeito possa colocar de si naquela função, nem sua inteligência, destreza, afeto ou criatividade, tem só que segurar aquele troço, estático durante horas?
Note-se que muitos desses ‘trabalhadores' estão sempre com cara de entediados e constantemente buscam se esconder pro trás da tal bandeira. Não sentem orgulho do que fazem; parecem mesmo ter vergonha. E apesar de, neste período, estarem portando a bandeira de um político, não estão, assim, manifestando opinião própria, já que não são cabos eleitorais (sem trocadilhos!), mas seres humanos pagos para segurar uma signo, à revelia de suas posições ideológicas. Fosse diferente, poderiam ficar até 24 horas em um pé só, que valeria a pena, pois estariam defendendo convicções. Os que seguram os mastros de madeira (por que estes não se equilibram sozinhos nas calçadas da orla ou no passeio da avenida, senão se bastariam) estão ali porque recebem dinheiro e, certamente, uma quantia mínima, que seduz apenas aqueles que não tem um trabalho de verdade que lhes permita sobreviver com honra e dignidade. E seguram os nomes dos mesmos políticos que, modo geral, já tiveram a oportunidade de contribuir para mudar essa realidade e não o fizeram. É louco, isso. Não me conformo.

domingo, 19 de setembro de 2010

O que será que será?


fotos: Giselly Lima

Ontem fui à praia de Garça Torta em Maceió. Estou certa de que, se vier morar definifivamente nesta cidade, será lá que armarei minha rede. Justifico com estas duas fotos: essa casa linda na qual me inspirarei e a praia quase na frente.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010



Longe, eu penso em casa. Escolho cores, costuro almofadas, compro objetos, teço palavras de paciência para ser presente, assim, distante. Volto lá e poderia não sair pra nenhum lugar, só estar, indefinidamente, entre risos, velhas tarefas e besteirinhas. Sou tomada de uma doce confusão de me sentir feliz sendo rainha-do-lar. Vê?

sábado, 11 de setembro de 2010

Layout, vixe!

Estou tentando acertar o layout do blog, mas não dou uma dentro. E só tem modelo feio.
Sorry

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

V&V


Este blog chama tropos liquidos porque um dia - não sei como - dei de cara com a palavra tropos, que significa desvio, e acrescentei o 'líquido' que, pra mim, remete a vinho, isso mesmo, vinho. Minha bebida favorita e imprescindível nos momentos de pausa. A vantagem de chegar aos quarenta (chegarei daqui a pouco!) é que não tem problema nenhum em dizer que o vinho é imprescindível.

Você pode pensar agora: "ela não escreveu esse tempo todo porque não tomou vinho". Errado. Não escrevi porque não tomei vinho perto de um computador. Depois de viajar muito, voltar pra casa, viajar de novo (pra outra casa), finalmente, vinho, tempo, computador e vontade. Viva!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Vício


Sendo ex-fumante inveterada e leitora apaixonada, tens noção do efeito disso sobre mim?
É um lançamento da Tankbook, editora inglesa, que fez uma homenagem ao primor de design que são as carteiras de cigarros. Elas exerciam um poder erótico em mim, assim como os livros exercem até hoje. Certeza, meu grande objeto de desejo neste momento.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Faço coro

"O íntimo é o novo punk, aquilo que é ameaçador."

"A gente anda se afastando tanto uns dos OUTROS que, quando você apresenta algo humano, que trata de emoções humanas, as pessoas dizem 'isso é deprimente', porque NINGUÉM consegue reconhecer-se naquilo."


Alejandro Gonzalez Iñaritu
(Falando do seu novo filme Biutiful)

sábado, 15 de maio de 2010

Religião

Há um mundo além
das janelas
da psicanálise
do cinema
da morte
da vida após a morte
do tempo
da linha da água
do horizonte
da razão

Um inesperado
mundo
suspenso
nas ignorâncias


Um entreaberto
Um pensamento
pendurado
Um fiapo

sábado, 17 de abril de 2010

Superstition - stevie wonder

Os anos setenta, que vivi ainda criança, me ensinaram a gostar de festa. Frequentei muita matinê de boate com direito a globo, luzes coloridas e passos duvidosos. Esse vídeo é uma pérola; esse pessoal, um charme só. Essa música se tornou um hit a caminho do trabalho (16 km de trajeto). É minha festa particular no trânsito de Maceió.

Cortei um pedacinho do vídeo pra poder postar. Fácil encontrar com mais 30 segundo no you tube.

domingo, 11 de abril de 2010

Síntese

" Quando estou longe
quero ficar perto
Quando estou perto
quero ficar dentro
Quando estou dentro
quero ficar mudo
Quando estou mudo
quero dizer tudo."
Itamar Assumpção

terça-feira, 6 de abril de 2010

blablasofia

Hoje
tive que ouvir
atenta
palavras de superfície;


palavras de superficie não
mergulham
penetram
remexem;


flutuam
a toa
sem ir

sem vir

sem caminho

sem contorno

a esmo
uma mancha
de verbos
a esmo;

tergiversam
a palavra
geográfica
oceanográfica
geológica
pornográfica
que perfura
a rocha de Clarice
que desbrava
desde o centro
minha intimidade
meus significados.

sexta-feira, 26 de março de 2010

tantos uns

Magritte
Autor desconhecido

Instalação de Marepe (Bahia) -27ª Bienal de São Paulo






quinta-feira, 11 de março de 2010

Eita


Estou sem tempo.
Ainda na página 157 do Grande Sertão.
Não porque não esteja adorando
mas porque me falta ócio.
A Ufal é o meu mundo, por enquanto.
No fim de semana, escapo.
Em Salvador, em casa, em família.
Mas nada de folga.
Pelo menos tem escuna e Buena Vista, sábado.
Mas Ju vai embora.
E eu tenho que seguir aqui.
Procurando minha turma.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Grande Sertão

Guimarães Rosa

Já tem um tempo, venho querendo tornar a leitura de Grande Sertão: Veredas meu projeto de férias. Como há muito não tiro férias de verdade, o projeto não tem saído da vontade. Neste meados de janeiro em que finalmente posso ficar por conta do ócio - para mim uma condição essencial para a leitura de um romance - me entreguei às páginas da obra tida por uns como indispensável a todo apaixonado pela literatura.
Soubesse eu que não havia nada de tão assim na linguagem usada por Guimarães - para mim, me assustava como o Ulisses de Joyce: achava um a moda do outro - teria encarado antes a empreitada e me antecipado esse prazer. Bastou romper as 15 primeiras páginas para me acostumar com o falar de Riobaldo e me embrenhar com ele pelo sertão, sem medo ou cansaço.
Apesar da demora, eu já tinhas algumas pistas de que era um sem fundamentos ainda que me mantivesse desenconrajada pelas notícias das tantas teses sobre o texto: Beth Hazin teve até os manuscrito do bicho em suas mãos para sua pesquisa em crítica genética e, por conta disso, me contou um tanto de coisa. Umas lindas. A última , de um ano atrás, é que sua proximidade com o livro lhe rendeu a função de guia literária - muito qualificada - em um passeio pelo sertão mineiro até o Goiás com privilegiados leitores da obra, interessados em reviver seus detalhes em in loco. Bacana.
Nas três ou quatro palestras do José Mindlim que já assisti, pois é figurinha fácil em todos os COLE's, o bibliófilo jamais esquece de afirmar ser o "Grande Sertão" o seu livro preferido, apesar das reservas que tem - e que também não deixa de mencionar - em relação ao seu autor, que segundo ele era um chato convencido.
Tem ainda os contos de Primeiras Estórias que amei desde sempre, sobretudo A terceria margem do rio, que me tira uma lágrima no ponto da recusa do filho de endoicer como o pai. Me dá uma dó tão grande quando ele se levanta, achando que o filho vai substuituí-lo na canoa...
Agora estou no sertão dos gerais, comovida com o amor quase incontível de um jagunço por outro, já esquecida do Tony Ramos e da Bruna Lombardi, plena de outras imagens.
Convido, os que queiram, a compartilhar essa leitura e comentar aqui. Dá pra alcançar uma edição entre as muitas já publicadas (estou lendo a da Nova Fronteira) e me acompanhar, pois viajarei de férias durante os proximos 8 dias e dividirei o ócio com outros prazeres. Neste momento estou na página 78. Quem já leu pode trazer suas memorias de leitura, adoraria.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

exercicio


Uma vez,

duas vezes,

e uma vez mais.

Nunca mais.

Reviravolta:

volta e meia,

Volteia .

Outra vez,

a vez

d e volta.

Revolta.

Dessa vez,

a volta

não tem vez.

Talvez.

domingo, 3 de janeiro de 2010

abóbora




Sempre chega,
a hora bendita.

Que se recuse
todo futuro,
que se abdique
de toda esperança,
que se negue
o porvir,
ainda assim
é hora.

e não se pode falar
e não se quer partir
e não é fácil ceder,
e não se vê honra na luta.

No entanto,
implacável,
a hora chega.
Empacota uma historia
inteira,
quer a única atitude
que não se pode ter.

Quando finalmente
chega a assustadora hora,
somos surpreendidos
pelo próprio,
rápido,
diligente
e obediente
sim.