terça-feira, 5 de março de 2013

Como se fosse fácil!

Há mais ou menos duas semanas, lendo os comentários dos leitores do Calligaris, fui surpreendida pela crítica de um deles que reclamava do fato de o colunista abordar um tema (salvo engano, era "regras de etiqueta") a partir de livros e filmes, e que isto era recorrer a 'muletas' por faltar-lhe recursos de escrita e assunto. Eu, de cá, reconheci de imediato minha escrita manca, pois, na maioria das vezes, é  esse tipo de coisa sem grande importância que me provoca a escrever. Ademais, são-me indispensáveis as leituras que faço para então arriscar uma resposta ao mundo. A verdade é que sem a experiência da arte, não conseguiria interpretar a vida ou falar sobre ela. Mas ainda há outros motivos. Escrevo sobre assuntos assim mais distanciados por causa de uma certa reserva e também por uma total falta de interesse literário  pela minha própria vida.  De todo jeito,  assumo também que sofro sim, sofro, de uma falta de assunto crônica.
A não ser em situações em que a vida sai do prumo, períodos que me rendem uma poesia de literariedade rarefeita, lacônica e sem qualidade alguma, estou sempre a falar de livros, filmes e de um passado remoto.
Hoje, algo me provoca a falar de coisas mais urgentes, ainda que imprecisas.Venho comentar com alguma reflexão o uso frequente que tenho feito da expressão: "Como se fosse fácil..."
Em diferentes entoações, com pausas e timbres que variam conforme a preguiça, impotência, desconfiança, egoismo, falta de fé... A razão desta expressão que se repete, sem dizer sempre o mesmo, é que tenho achado tudo muito difícil de realizar,enquanto  as pessoas ao meu redor estão sempre muito dispostas a falar de soluções para os dilemas humanos de uma forma que, tenho a impressão, não estão de fato a considerar que somos apenas isto, humanos.
Pra mim não é fácil dizer não nem sim; não é fácil fazer o que não gosto nem lutar pelo que gosto; não é fácil esquecer o que me magoou nem lembrar do que magoou demais; não é fácil passar por cima dos obstáculos impostos pelo sadismo social dos outros, muito menos responder a eles a altura (e isto inclui toda classe de problemas contemporâneos em relação ao trabalho, ao corpo e ao espírito). Pois. O problema é que tem sido fácil demais encontrar conselhos gratuitos e em profusão e, às vezes, me pego nessa armadilha de me cobrar atitudes que me levariam direto pra saída. Como se fosse fácil...
Felizmente, sempre tem gente andando na contra-mão. E uma amiga, a quem admiro pela agudeza de sua percepção, postou no Facebook, ontem, acho, uma frase do Itamar Assunção que me diz muito: "Não há saídas/ Só ruas viadutos e avenidas."
Desconfio, como o Negro Dito, que não há libertação, só os desvios que construímos. Volta que damos para ver a coisa de outra posição. Entre vacilos, movimentos em falso, a esmo ou calculados,  vamos acreditando num ponto de chegada. Mas é nesse "acreditando" aí, nesse gerúndio, que vamos saindo, porém sem chegar a lugar algum.
Lamento se não fui muito além do que costumo. Ainda estou tentando escrever sem citar, sem recorrer a outras leituras, sem me expor demais e, ainda assim, escrever... Como se fosse possível...


2 comentários:

A Viajante disse...

Imagina se te falta recursos da escrita!! Claro que não, amiga... as muletas são imprescindíveis, sim... são as nossas releituras (textos, filmes, imagens...) que nos transformam, nos sensibilizam, nos colocam para ir na mão ou na contra-mão... se há saídas ou apenas desvios, isso não nos impede de nos manifestarmos... e isso é fácil, sim!!! Basta que o façamos quando indignados ou movidos por qualquer sentimento, que me parece ser o caso aqui. Já disse antes: escreve mais!! Adoro te ouvir, mas te ler é uma experiência maravilhosa, também. Beijo!

Giselly Lima disse...

Ju,vou te dar o prêmio de minha melhor leitora. Ser a única não lhe desmerece em nada..rs...Você deixa qualquer um feliz.
Mas vou te dizer: você ainda terá que aguentar os bastidores dessa escrita. Vou te ligar pra desdobrar o assunto... Beijo.