segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Uma arte - Elisabeth Bishop

Tradução: Ricardo Cabús
(In: CABUS, Ricardo, Cacos Inconexos. Maceió: Instituto Lumeeiro, 2010)


A arte de perder não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem cheias do intento
de ser perdida que sua perda não é um desastre.


Perca alguma coisa todo dia. Aceite a perturbação
de perder as chaves da porta, a hora gasta inadequadamente.
A arte de perder não é difícil de dominar.


Então pratique perder mais, perder mais rápido:
lugares e nomes e para onde você queria
viajar. Nada disso será um desastre.


Perdi o relógio de minha mãe. E veja! Minha última, ou
quase-última, de três casas queridas se foram.
A arte de perder não é difícil de dominar.


Perdi duas amáveis cidades. E, mais vasto,
alguns reinos que possuía, dois rios, um continente.
Eu sinto falta deles, mas não foi um desastre.


– Mesmo perdendo você (a voz brincalhona, um gesto
que amo) eu não deveria ter mentido. É claro que
a arte de perder não é tão difícil de dominar
embora possa parecer como (escreva isto!) como um desastre.

Um comentário:

A Viajante disse...

...contanto que não se perca a fé, todo o resto não é um desastre...bj, Gica!