quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mulherzinhas

Em casa de minha mãe havia muitas meninas. Mulheres, ficamos distantes. Antes aprendemos uma força qualquer, uma inteperança no partir, um medo que nos obrigava à insurgência. E fomos com nossos cavaleiros para reinos evanescentes. Seis mulheres com suas pequenas fábulas costuradas de retalhos antigos. Apesar, nossa solidariedade esteve lá.. Compreensão construída nas pazes feitas após brigas de puxar cabelo.
Ser mulher não veio com facilidade pra nós. Por isso tento entender os códigos partidos.
E sendo mulher crescida na aridez de modelos femininos livres, questiono o agora e lembro que sonhava um tempo de não ter que aceitar uma condição menor que viver o binômio liberdade-verdade.
Ainda não chegou e talvez não chegue. Mas há muito porque lutar, mesmo para aquelas que já manejam o mundo do homem com seus colhões simbólicos. No mínimo, por um mundo em que não mais tomaremos metáforas do universo macho - colhões, bolas, fio do bigode, bala na agulha - para falar de poder e força.
Imagine o mundo ocidental na versão feminina. Como seria o trabalho, o amor, o sexo, o casamento, a maternidade, a escola, a casa, pensados a partir de uma estética e uma ética cuja base é o poder feminino? Não almejo tal cenário. Conheço-me. Demoraria milênios para desnudar todo o olhar construído a partir do referencial masculino. Mas almejo tempo de irmandade, de compreensão legítimas, de diálogo aberto, de possibilidades para além da visão dual que está na raiz do "do dá ou desce"; da visão binária de construção da vida, que o poder masculino nos legou.
Um tempo em que não nos culparemos mutuamente por sermos mais fortes ou mais frágeis, mas bonitas ou mais feias, mas livres ou mais aprisionadas, mas flácidas ou mais duras, mas duras ou mais flexíveis, sem enxergamos o quanto somos mais do mesmo.

3 comentários:

Anna Amélia de Faria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anna Amélia de Faria disse...

Que bacana. Este tropo líquido também estará lá, junto ao meu :)
bjs

A Viajante disse...

Gica, hoje que li "Mulherzinhas". Boa reflexão...suas manas precisariam ler essas linhas, uma linda homenagem!
Bj!